Impressões sobre as receitas do bom escritor Linaldo Guedes
Lenilson Oliveira*
Dois dias após receber das mãos do poeta e jornalista Linaldo Guedes o seu livro “Receitas de como se tornar um bom escritor” (Chiado Editora, 2015), alardeei que havia começado a leitura e que a faria de um fôlego só, pela sua leveza e por tudo que me despertou logo nas primeiras páginas: “instigante, provocativa, como seria de se esperar saindo da lavra de um leitor/pesquisador/observador e, sobretudo, poeta sem pretensões de crítico ou teórico…”.
Talvez tenha pecado quando disse que ele seria um “poeta sem pretensões de crítico ou teórico”. Ledo engano, que me permito corrigir aqui sem o menor constrangimento. Após devorar as mais de cem páginas que abrigam os quase trinta “textos escritos e publicados na imprensa escrita e virtual a partir do ano 2000”, como diz o autor na Apresentação, vi que “Receitas de como se tornar um bom escritor” nos revela o crítico e o teórico por trás do poeta e vice-versa. Não aquele crítico ou teórico de gaveta, mas um que vive o que escreve, muito talvez pela sua função desde sempre exercida no jornalismo literário/cultural.
Sim, escrevo em primeira pessoa porque a amizade e os papos com Linaldo Guedes nos últimos meses sobre poesia, cotidiano, frivolidades, Cajazeiras e temas outros, assim me permitem. E esse tom pessoal, ele dá também ao longo de “Receitas”, como se dialogasse com os autores e teóricos que dão base aos textos escolhidos entre tantos outros que deve ter ainda inéditos e na mesma linha proposta.
Pode parecer óbvio dizer aqui que “Receitas de como se tornar um bom escritor” tem sua maior importância na carga irônica que carrega, até publicitária, como em certo trecho o autor define muito do que se tem produzido e publicado pelos meios virtuais patrocinados pela internet, por autores iniciantes e outros mais tarimbados. Sim, não esperemos nenhuma dica sobre como escrever bem dada pelo tarimbado Linaldo Guedes, autor de “Os zumbis também escutam blues e outros poemas” (A União, 1988), “Intervalo Lírico” (Dinâmica, 2005), “Metáforas para um duelo no sertão” (Patuá, 2012), “O Nirvana do Eu – Os diálogos entre a poesia de Augusto dos Anjos e a doutrina budista” (Ideia, 2018), entre outras publicações de ensaios, poemas e outros escritos em livros e suplementos literários, sobretudo no Correio das Artes, do qual foi editor por seis anos. Mais do escrever, ele nos ensina que o principal é ler, como fazem os professores de qualquer disciplina ligada à produção textual. E ele nos convida a ler “Sérgio de Castro Pinto, João Cabral de Melo Neto, Paulo Leminski, Augusto dos Anjos, Vinicius de Moraes, Augusto de Campos, José Lins do Rego, Fernando Pessoa, Ariano Suassuna e Padre Antônio Vieira” e também – e talvez principalmente – Carlos Drummond de Andrade.
A sua base teórica vem do Curso de Letras, feito em Cajazeiras, no ainda Campus V da Universidade Federal da Paraíba. O seu diálogo com os autores a que se propõe a desnudar em “Receitas” vem muito do seu ofício como jornalista/editor cultural, entrevistando várias personalidades da área nesse meio tempo.
No ensaio que dá nome ao livro, em quatros páginas e meia, Guedes insinua que sigamos seis “receitas”, que não vou descrever aqui para não quebrar o encanto e o propósito de quem for à livraria amanhã procurá-lo. Pode ir, aconselho.
Como toda receita, de bolo ou do que seja, se não souber escolher e manipular os ingredientes corretamente, o produto final vai desandar. Tenho dito. Mas já foi dito antes pelo bom escritor Linaldo Guedes.
Província de Cajazeiras (PB), 8 de julho de 2018.
(*) Aprendiz de poeta e jornalista