Paisagem verde muda rápido e seca domina mais de 70% da Paraíba
A seca já atinge mais de 70% da Paraíba, praticamente todo o estado. Dos 223 municípios, 160 apresentam seca moderada ou grave. Enquanto isso, apenas 63 cidades estão em uma condição de vegetação favorável, ou seja, não estão sofrendo com a estiagem. De acordo com o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, desde abril deste ano, 197 municípios da Paraíba são reconhecidos como em situação de emergência, por ocasião da situação de estiagem.
É o que mostra o atual mapa da cobertura vegetal do estado, obtido através de monitoramento por satélite, realizado pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), em parceira com o site www.letrasambientais.com.br.
De acordo com a atual imagem de satélite de cobertura vegetal, a maioria dos municípios do estado apresenta áreas em vermelho que indicam a ocorrência de seca grave, enquanto em amarelo, sinalizam para a condição de seca moderada. A estiagem ocorre, de forma mais grave, nas microrregiões do Cariri, Seridó e Catolé do Rocha.
Apenas em alguns municípios do leste do estado, incluindo a Zona da Mata e parte do Agreste, a vegetação está verde, ou seja, as condições climáticas continuam favoráveis e a seca ainda não atingiu a vegetação.
Os mapa abaixo mostra a rápida mudança ocorrida na vegetação da Paraíba para a condição de seca. A primeira imagem retrata o estado durante os meses chuvosos, no período que compreende os dias 30/04/2018 a 06/05/2018, enquanto o segundo mapa mostra as condições da vegetação entre os dias 09/07/2018 e 15/07/2018.
A imagem de satélite da cobertura vegetal da Paraíba, de maio deste ano, mostrou como as chuvas registradas no estado, no período de fevereiro a maio (estação chuvosa), permitiram uma rápida recuperação da vegetação da caatinga. Naquele período, apenas municípios do Cariri, uma das áreas mais secas do Brasil, assim como da microrregião do Catolé do Rocha, continuaram secos. Praticamente todo o mapa da Paraíba ficou verde, com o expressivo volume de chuvas registrado este ano.
O período da estação chuvosa na Paraíba, bem como em todo o Semiárido brasileiro, terminou em maio. A partir de então, a seca se espalhou por todas as regiões.
Paraíba é o terceiro mais seco do Nordeste
No período de 2013 a 2016, a Paraíba foi o terceiro estado do Nordeste a registrar maiores proporções de municípios atingidos pela seca (91,9%), ficando atrás somente do Ceará (97,8%) e do Piauí (93,8%). É o que mostra uma pesquisa divulgada no último dia 05 de julho, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobre o Perfil dos Municípios Brasileiros (Munic).
O estudo também chamou atenção porque, durante o período, ocorreu algum evento de seca em praticamente metade dos 5.570 municípios do País (48,6%), totalizando 2.706 municípios a registrarem esses eventos climáticos. Apesar do dado alarmante, a maioria dos municípios afetados pela seca no Brasil (59,4%) não conta com um instrumento orientado à prevenção de desastres naturais e apenas 14,7% têm um plano específico de contingência e/ou de prevenção à seca.
A região Nordeste, conhecida pelas secas frequentes, intensas e com profundos impactos socioeconômicos, apresentou a maior proporção de municípios afetados pela seca (82,6%). Esses eventos climáticos muitas vezes tomam proporções de desastre natural, em função da gravidade dos impactos sociais, econômicos e ambientais.
O mapa abaixo mostra que a seca já atinge quase todos os municípios do Semiárido brasileiro, com exceção das áreas de Zona da Mata, na Costa Leste do Nordeste, onde a vegetação está verde e ocorre, no período de abril e julho, a estação chuvosa.
Seca causa danos e prejuízos
Segundo um Relatório do Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil (Ceped), no período de 1995-2014, o total de danos materiais e prejuízos (públicos e privados) causados por desastres naturais derivados de eventos climáticos no Brasil foram estimados em R$ 100 bilhões. Deste total, cerca de 75% estão diretamente vinculados às estiagens e secas, a afetarem, frequentemente, o Nordeste e as demais regiões do Brasil.
No Nordeste, o valor total de danos e prejuízos públicos e privados, derivados de eventos climáticos, foi cerca de R$ 47 bilhões, no período 1995-2014. O valor inclui o total de prejuízos privados na agricultura, pecuária, indústria e serviços.
O estado da Paraíba ocupa o quinto lugar (6%) como um dos mais impactados e submetidos a maiores prejuízos na região, ficando atrás da Bahia (28,8%), Ceará (22,2%), Pernambuco (16,2%) e Piauí (16,1%).
O papel dos gestores
As ações mais comuns adotadas pelos municípios atingidos pela seca no Brasil, para evitar ou minimizar os danos causados pelo evento climático, são de caráter emergencial: a construção de poços (59,5%) e a distribuição regular de água, através de caminhões-pipa (58,1%).
Dessa forma, a pesquisa do IBGE chama atenção para a falta de capacidade institucional dos municípios brasileiros para lidarem com o constante risco de ocorrência de secas. O panorama é crítico para os estados do Semiárido, incluindo a Paraíba, com forte potencial para a ocorrência de seca, que pode tomar proporção de desastre natural, em um cenário socioeconômico e ambiental vulnerável.
É necessário, todavia, atuar no planejamento de ações para a convivência com o Semiárido, utilizando informações seguras de monitoramento da seca, evitando maiores prejuízos aos setores econômicos e à população do estado.
Governo e Banco Mundial discutem situação
A segurança hídrica no Estado da Paraíba foi o assunto dessa semana por técnicos da Secretaria de Estado da Infraestrutura, dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia (Seirhmact) e do Banco Mundial. Essa foi a terceira missão oficial da instituição na Paraíba para avaliação dos projetos encaminhados pelo Governo do Estado, pleiteando recursos na ordem de US$ 138 milhões, a serem liberados a partir de 2019.
A reunião inicial da missão foi presidida pelo secretário da Seirhmact, Deusdete Queiroga, e contou também com a participação de técnicos do órgão, de representantes da Cagepa, da Aesa, da Sudema, e de especialistas em água e saneamento, especialista ambiental, consultoria em gestão de recursos hídricos e especialista em saneamento do Banco Mundial, entre outros órgãos da administração estadual.
De acordo com o secretário Deusdete Queiroga, o contrato, que deverá ser assinado no início do próximo ano, terá também uma contrapartida do Tesouro do Estado, com investimentos de US$ 80 milhões e prevê a execução de obras importantes na área de segurança hídrica. “As obras são: o ramal do Cariri da adutora Transparaíba; um projeto de readequação e de melhoria de todo o esgotamento sanitário de João Pessoa, inclusive ampliação de tratamento com a implementação de uma nova lagoa de estabilização na área das pedreiras no Baixo Róger, na Capital”, enumerou.
Segundo o secretário, consta também no projeto a reestruturação da Aesa, órgão responsável pela gestão dos recursos hídricos, ampliando a atuação do órgão, que vai gerir a transposição de águas do Rio São Francisco; além do trabalho de redução de perdas, que será desenvolvido por meio da Cagepa, visando diminuir as perdas de água no abastecimento da Região Metropolitana de João Pessoa, com a implementação da medição. A execução das obras ocorrerá nos próximos seis anos, a partir da assinatura do contrato.
Para o representante do Banco Mundial, que lidera a equipe, Thadeu Abicalil, a parte que compete ao Estado está bastante adiantada, tendo em vista o esforço que vem sendo feito pelas duas equipes (Estado e BM), para que em um ano seja concluído o processo, iniciado em janeiro de 2018, superando o cronograma regulamentar, que é de um ano e meio a dois anos, para esse tipo de operação.
“A expectativa é que nos dois próximos meses seja concluída a parte técnica, que consiste na análise das salvaguardas social e ambiental e em seguida será feita a parte de negociação fiscal e legal até dezembro, para que o contrato seja assinado já no início do ano de 2019”, observou o coordenador da equipe do BM.
O objetivo da missão do BM é de aprimorar os documentos ambientais, acompanhar o andamento dos projetos de engenharia em execução pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) e dos Termos de Referência (TDR) da Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa), entre outros. O grupo está realizando, desde a segunda-feira (23), reuniões na Seirhmact, além de visitas de campo.
Luís Eduardo Andrade, do Portal Correio
(Foto: Reprodução/Agência Brasil)