Maioria do eleitorado diz não se sentir representada pelos atuais senadores e deputados federais
Uma maioria de 74,1% de eleitores não sabe em quem votar para deputado federal nas eleições que ocorrem daqui a um mês e meio. O Instituto Paraná, em parceria com o JORNAL DO BRASIL, mostrou que, 16,4% deles afirmam que irão anular o voto para o cargo – uma percentagem próxima aos votos nulos e indecisos revelados nas últimas pesquisas sobre intenção de voto. Nesta quinta-feira, o dado, em cenário com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alcançava 19,9% dos eleitores.
A alta percentagem dos que ainda não escolheram seus candidatos à Câmara não surpreende quando se observa, na mesma pesquisa, que 82% dos eleitores declararam não se sentirem representados pelos atuais deputados federais e senadores. Apenas 13,6% deles se dizem representados. Já o percentual de eleitores que não se sente representado por algum partido político sobe para 87,4%.
Pesquisa mostra também que 83,7% pretende comparecer às urnas deste ano
O desencanto e a desinformação, certamente, vão contribuir para a baixa taxa de renovação do Congresso. Analistas estimam que pelo menos 447 deputados, ou 87% dos atuais 513 parlamentares, vão tentar conquistar um novo mandato. “Pesquisas anteriores revelam que a maioria dos eleitores não lembra em quem votou para o Congresso nas últimas eleições. Então ele acha que está renovando, enquanto está votando no mesmo nome. Eles não se sentem representados, mas também não sabem dizer quem são os candidatos. O que não representa eles é esse Brasil atual. Só que eles não sabem que os deputados que tentarão a reeleição fazem campanha como se fosse a primeira vez”, diz Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná.
Apesar de não se sentirem representados, este ano, os eleitores terão maior número de opções para deputado federal. O número de registro de candidatura ultrapassou o de 2014, segundo um balanço do Tribunal Superior Eleitoral. Foram mais de oito mil pedidos, enquanto, na última eleição, foram 7.137.
Novas regras para financiamento de campanha, menos tempo de propaganda em rádio e TV, as mudanças na lei terão impacto direto no alcance de candidaturas menores. Para Hidalgo, esse acesso deve aumentar a partir de agora, e as decisões devem começar a ser tomadas a partir do final de agosto e início de setembro: “As eleições para deputado vão chegar tarde, a movimentação é mínima. Já está liberado fazer campanha, mas pouca gente está fazendo, porque não tem dinheiro. Isso tudo tem a ver com a mudança nas regras do jogo. O eleitor acaba não tendo acesso a quem são os candidatos”.
Os deputados que tentarão a reeleição fazem campanha como se fosse a primeira vez
A pesquisa de opinião pública foi feita com 2.002 eleitores, em 26 estados e DF e em 168 municípios entre os dias 9 e 13 de agosto. A amostra atinge grau de confiança de 95% para uma margem de erro de aproximadamente 2%.
83% vão às urnas
A pesquisa mostra também que, ao contrário do que se esperava, 83,7% pretende comparecer às urnas deste ano. No Brasil, onde o voto é obrigatório, a abstenção (não comparecimento de eleitores registrados) associada à renúncia ao direito de indicar sua preferência (votos nulos e brancos) era um indicador em alta nas últimas eleições extraordinárias realizadas em junho para governo e município.
Em Teresópolis (RJ), quase metade dos eleitores (48,97%) não escolheram nenhum candidato. Em 2016, haviam sido 32,9%. No Tocantins, foram 43,54%, contra 29,4% em 2014. O candidato eleito, nesta última, fica no cargo até dezembro, podendo concorrer à reeleição em outubro.
Hidalgo acredita que os exemplos não se comparam, e que, diferente do que esses resultados mostram, as eleições gerais de outubro serão “acaloradas”. “A gente não pode basear a abstenção pelas eleições recentes. Tem mais motivo para votar agora do que um pleito que vai eleger um governador por um tempo curto. E ainda há de se levar em conta o número de pessoas inaptas ao voto, por exemplo”, disse o diretor, completando: “Nunca se discutiu tanto uma eleição presidencial antes do tempo. Começou no dia seguinte do impeachment da Dilma Rousseff. Mas o povo está interessado na eleição nacional, o que deixa as regionais em segundo plano”, analisa Hidalgo.
Fonte: Jornal do Brasil