O legado de Carlos Aranha – Por Linaldo Guedes
Falei ontem, em depoimento para a TV Cabo Branco, que todo jovem que se iniciava no jornalismo na Paraíba nos anos 80-90 queria ser Carlos Aranha.
“Todo” é exagero, claro, mas eu queria.
Desde os 14 anos lia suas colunas nos jornais paraibanos: Essas coisas, uma miscelânea onde falava sobre todos os assuntos, lançava novos talentos, jogava polêmicas no ar e muita poesia.
Meu sonho era conhecê-lo. Até que um dia aconteceu numa das mesas do antigo La Veritá, eu começando em jornal diante de meu ídolo na profissão.
Ficamos amigos e parceiros em projetos culturais, trocávamos ideias sobre jornalismo, sobre as coisas do mundo, enfim.
Aranha era underground, revolucionário, atento ao que ainda estava por vir. Tinha uma capacidade e um olho clínico incrível para descobrir novos talentos. Muitos que hoje estão aí nas cenas musicais, literárias, do teatro ou cinema, foram divulgados pela primeira vez por Carlos Aranha.
Este escriba, inclusive. Ele me divulgou como poeta em sua coluna quando eu ainda era estudante de Comunicação.
Tenho muitas histórias e coisas para falar sobre Aranha, mas quero abordar um assunto delicado e triste.
Aranha morreu morando num asilo, abandonado pela família e por muitos amigos. Estava com Alzheimer, esquizofrenia e outras doenças.
Ano passado, um amigo comum, que cuidava dele, me ligou desesperado pedindo ajuda e me enviou vídeos do estado de Aranha. Conversamos vários dias em busca de uma solução.
Sim, precisamos falar sempre de saúde mental e abandono. Uma história como a vivida por Aranha, tão importante para a cultura paraibana, não poderia acabar assim.
Aranha era também apaixonado pela cidade de João Pessoa. Em meu último livro, num poema sobre o Parque Solon de Lucena, cito o autor de “Sociedade dos poetas putos”. Com certeza ele não chegou a ler este poema, mas deixo um trecho aqui em homenagem ao grande amigo que, literalmente, descansou:
“e ele, carlos aranha,
oráculo de um novo tempo
palmeira imperial do parque:
nós an insight
nós antes do tempo
– abençoados pela poesia de augusto!”