Por que a aviação regional não decola? – Por Alexandre Costa

O cancelamento de rotas aéreas regionais da empresa Azul Conecta em quatro estados do Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte), por alegação de baixa demanda, acendeu a luz vermelha para o desfecho final de uma das maiores crises do setor aéreo brasileiro com consequências imprevisíveis. O problema não é somente a baixa demanda. Neste mesmo pacote, a Azul também anunciou a inexplicável suspenção dos dois voos diários entre Juazeiro do Norte a Fortaleza e Recife.

A turbulência enfrentada na Azul Conecta é um reflexo direto da crise que assola as duas das três maiores empresas do setor, a Gol e a Azul Linhas Aéreas. A Gol enfrenta um duro processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, numa conta que chega a R$ 20 bilhões, e a Azul Linhas aéreas, atolada em dívidas e lutando desesperadamente para continuar voando, bateu à porta de seus credores e conseguiu renegociar seus débitos, em curto prazo, na ordem de R$ 6 bilhões além de levantar um “papagaio” de US$ 500 milhões para manter a sua frota no ar. A LATAM, a outra empresa do trio, também passou recentemente por fortes turbulências financeiras saindo, em 2022, de uma recuperação judicial.

Afinal, o que está realmente está por trás do hipertrofiado setor aéreo brasileiro? Podemos citar duas causas deste problema: a herança da pandemia da Covid-19, que impediu as empresas aéreas de operar, ocasionando prejuízos astronômicos, num setor que já vinha endividado, e a crise global na cadeia de suprimentos. Na verdade, estas empresas sofrem o efeito de uma tempestade perfeita do pós-pandemia que destruiu suas finanças e seus planos estratégicos de crescimento.

E foi no epicentro desta tempestade perfeita que surgiu o acordo de fusão da Gol com a Azul, uma espécie de lanterna dos afogados para operacionalizar conjuntamente novos voos em busca do tão sonhado “céu de brigadeiro” no caixa das duas empresas, gerado por uma redução brutal nos seus custos operacionais.

Esta fusão denota claramente uma medida extrema de salvação para que estas empresas continuem operando, mas na outra ponta aumenta o receio dos usuários, considerando que as duas juntas dominariam 60% do mercado de aviação doméstico, fato que denota nitidamente uma maléfica concentração de mercado, reduzindo a concorrência, afetando a qualidade dos serviços e impactando os preços das passagens.

A grande incógnita que tem que ser revelada neste processo seria a decisão da futura empresa que nascerá desta fusão. Seria a Azul Conecta extinta ou fortalecida? Em caso de extinção, seria o golpe de misericórdia na aviação regional nordestina. Eis aqui uma importante pauta para a próxima reunião de governadores do Consórcio Nordeste.

A grande realidade é que neste cenário desolador de indefinições, o setor aéreo regional precisa de uma urgente remodelação, que exige apoio governamental, que promova novos investimentos, incentivos tributários, abertura do mercado para empresas internacionais, tudo dentro de um novo e moderno marco regulatório. Fora disso, a aviação regional brasileira não decola.

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