Tarifaço, pacificação e anistia – Por Alexandre Costa
A união da esquerda e da direita para aprovação, por unanimidade, de um projeto de lei no Senado Federal deixou perplexo até os mais experientes jornalistas que cobrem a rotina do poder em Brasília. Embora possa parecer algo impensável nos atuais e conturbados dias de exacerbada polarização ideológica, o fato ocorreu na última terça-feira (1) quando o Senado, com a união de todas as forças políticas da Casa, aprovou, por 70 votos a 0, o Projeto de Lei 2.088/2023, a PL da Reciprocidade, que impõe a novas regras ambientais e comerciais nas relações do Brasil com outros países.
Foi uma rápida e contundente resposta do Brasil ao tarifaço de Trump que, até a aprovação desta medida, estava impedido de aplicar tarifas unilateralmente a um país ou um bloco econômico por práticas lesivas a competitividade internacional brasileira.
Mas o que chamou atenção mesmo, foi esta inédita e salutar articulação da classe política brasileira que, de forma unânime, aprovou esta Lei, às vésperas do anúncio do muro tarifário de Donald Trump, resguardando o Brasil de nocivos ataques tarifários internacionais.
Enfim, o que levou a esta unanimidade das nossas lideranças políticas no Senado quando no mesmo dia e hora na Câmara dos Deputados, a oposição em pé de guerra, anunciava a obstrução de todas as votações da Casa acuando presidente, Hugo Motta (Republicanos-PB) a pautar o Projeto da Anistia? Estaria Brasília respirando novos ares com a mudança dos presidentes destas duas Casas ou, finalmente, os políticos conseguiram enxergar a diferença entre interesses político-partidários dos verdadeiros interesses do Estado brasileiro?
A resposta a estes questionamentos veio de Motta que, em tom de um pseudo estadista, disparou: “definitivamente, nas horas mais importantes não existe um Brasil de esquerda ou de direita, existe apenas o povo brasileiro”.
A postura de estadista de Motta será testada no seu posicionamento para pautar ou não o projeto da anistia aos baderneiros dos atos antidemocráticos do 8 de janeiro, que tramita na Casa que ele preside. Na sua campanha para a presidência da Casa, assumiu compromisso com o centrão de pautar este projeto, mas a pressão de partidos da base governista e do próprio STF fez Hugo “morder a corda” e agora fala que o tema não é prioridade.
Esta atitude ficou explicitada em um discurso que proferiu dias antes de embarcar para uma recente viagem ao Japão onde afirmava que o “Brasil vivia a plenitude de um Estado Democrático de Direito, sem censura e sem presos políticos”, uma equivocada declaração que enfureceu toda a direita brasileira e enterrou de vez seus arroubos de estadista para pacificar o país.