Marina Silva e o nada cordial homem brasileiro – Por Linaldo Guedes

O bolsonarismo foi (e é) negacionista em aspectos como a rejeição de fatos científicos, com a consequente manipulação de informações e crenças em teorias conspiratórias. Um negacionismo tão explícito que fez com que muita gente tirasse a máscara, assumindo seus preconceitos racistas, homofóbicos, sociais e misóginos. Até mesmo a tese de Sérgio Buarque de Holanda, no livro “Raízes do Brasil”, é negada. Sérgio Buarque defendia a ideia de que o brasileiro era um homem cordial. “É a forma natural e viva que se converteu em fórmula”, dizia o sociólogo.

            Não é não, Sérgio! Os fatos acontecidos com a ministra Marina Silva esta semana, em audiência pública realizada no Senado, mostrou que não existe cordialidade alguma em parte da sociedade brasileira, principalmente naquela que detém poder ou mandatos no parlamento nacional. Marina foi agredida de forma desrespeitosa, preconceituosa e claramente misógina por parlamentares apenas porque, enquanto ministra, contraria os seus interesses econômicos ao defender rigor na legislação ambiental.

            Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva esteve no Senado para defender etapas técnicas para a emissão de licenças ambientais. Como uma pessoa qualificada para o tema, e de bom senso, ela criticou as mudanças em licenciamento em análise no Congresso Nacional. Uma proposta que contém muitos riscos para o equilíbrio ambiental do país.

            Como machistas e misóginos não têm como hábito escutarem as mulheres, Marina passou a ser alvo de declarações dos senadores consideradas ofensivas. O senador Plínio Valério (PSDB-AM) disse que a ministra não merecia respeito. Ele mesmo, que já tinha revelado o desejo de enforcar a ministra, por não tolerar ouvi-la numa audiência da CPI das ONGs. Obviamente, que Marina não se deu por calada. Exigiu um pedido de desculpas, e como ele não veio, se retirou da audiência.

            Os senadores, na verdade, tentaram armar uma arapuca para Marina, mas quebraram a cara. Não tem como intimidar quem tem uma causa, como diz a própria ministra. Uma pessoa com uma história de luta em defesa da causa ambiental, respeitada em todo o mundo, não vai ser submissa e nem baixar a cabeça. 

“A maior parte da sociedade está pagando um preço muito alto, com mortes no Rio Grande do Sul, crianças que enchem hospitais com as queimadas, enchentes na Bahia”, diz Marina. E ela tem razão.

Marina não impede o agro de crescer e em sua gestão como ministra já deu mais de 1.500 licenças ambientais. 150 para a Petrobras. Reduziu o desmatamento. E o Agro cresceu 15%. O que ela defende, e sempre defendeu, é a existência de critérios no licenciamento ambiental. Mas quem só visa lucros está pouco se lixando para o meio ambiente.

“Estão atacando de morte a espinha dorsal da proteção ambiental do Brasil, que é o licenciamento ambiental. Esse relatório que foi aprovado não era conhecido. Foi apresentado em cima da hora. Estávamos discutindo há mais de dois anos em cima de outro relatório”, defendeu Marina. Sim, ela sabe do que fala e está no lugar certo: “O meu lugar é defender aquilo em que eu acredito”, reforçou.

Sabemos disso. Os nobres senadores também sabem. Por isso quiseram dobrar a ministra em nome de interesses escusos. Homem cordial? Ah, Sérgio Buarque de Holanda, você não repetiria isso se presenciasse o Brasil do século XXI!

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