Um escândalo chamado Caetano! – Por Linaldo Guedes
Simone de Beauvoir dizia que o escritor original enquanto não morre é sempre escandaloso. Falar em escandaloso, esta semana comemoramos os 83 anos de Caetano Veloso, um escândalo de talento, um dos gênios de nossa MPB! Autor de “Escândalo”, falando que agora faz um frio aqui.
“Se ninguém tem dó, ninguém entende nada
O grande escândalo sou eu aqui, só”, diz a canção.
Não gosto de banalizar a palavra genial, mas para Caetano eu digo, sim: você é genial! Seu primeiro disco que ouvi foi “Cinema transcendental”, com as maravilhas de “Trilhos urbanos”, “Cajuina”, ”Oração ao tempo”, “Elegia” e “Vampiro”.
Mas outros me cativam, como “Velô”, com “Podres poderes”, “O quereres” e “O homem velho” e “Uns”, com “Peter Gast”, que inspirou o poema “Xerox”, que está em meu primeiro livro.
Quando ele lançou aquele disco com músicas internacionais preferidas sua, um amigo jornalista publicou artigo detonando. Eu publiquei artigo em outro jornal elogiando. O amigo me ligou:
– Vamos travar uma polêmica na imprensa? Eu detono Caetano e você elogia…
Não aceitei o desafio, claro.
Gosto de Caetano pra mim. Quem quiser que faça polêmicas gratuitas.
Aliás, devo dizer que quando faço um poema, busco sempre inserir uma palavra nova, que ainda não usei, em seus versos. Nem sempre consigo, porque às vezes o poema cisma em usar do trivial para dizer o que quer.
É, meus amigos, poema é bicho manhoso e às vezes só quer um pezinho para mandar em você. Palavra nova não quer dizer necessariamente palavra inventada, no melhor estilo Guimarães Rosa, porque isso quase não faço, no máximo busco novos sentidos para palavras já bastante utilizadas na língua portuguesa. Mas é encantador quando se cria uma nova palavra.
Como Djavan, ao criar o verbo “caetanear”, no dizer dele “o que há de bom”. E que bom que Caetano Veloso chegou a mais um ano de vida!
Ele que também é mestre na arte de lidar com as palavras, nas suas letras quilométricas que dizem tanto que a gente escuta cem vezes e sempre está descobrindo algo novo.
Ou nas letras de canções, como “Cajuína”, tão sofisticada em sua aparente simplicidade…
Caetano vai do pop ao erudito em segundos, transforma Fernando Mendes em cult, cria novos conceitos e sempre tem uma música que vira clássico em seus discos.
Um artista completo!
Minha preferida dele? Ah, poderia citar pelo menos umas trinta, mas hoje vou com a delicadeza de “Trem das Cores”, num encantamento sobre a diversidade cultural do Brasil: “A franja da encosta cor de laranja, capim rosa chá/ O mel desses olhos luz, mel de cor ímpar…”
Caetano é, sim, o mais escandaloso de nossos artistas da música!