Tempestade perfeita – Por Alexandre Costa
Esta expressão, cunhada para definir uma sequência de vários eventos negativos que se entrelaçam ao mesmo tempo e podem produzir uma grave crise interna ou mesmo uma grande catástrofe, se encaixa como uma luva no caótico momento político, econômico e diplomático que o país atravessa.
Desconheço tamanha combinação de fatores negativos que, em pouco espaço de tempo, potencializou no Brasil uma forte crise política interna induzida por uma cruel e avassaladora ação dos EUA que nos impôs uma abusiva taxação de 50% aos produtos brasileiros que entram naquele país. Um petardo na nossa claudicante economia, que atingirá em cheio a cadeia produtiva que alimenta a nossa pauta de exportações para o nosso segundo maior parceiro de comércio exterior no mundo.
Neste caso, a tempestade perfeita que se abateu sobre o Brasil não se trata de uma simples conjunção de fatores adversos que poderiam ser superados como em qualquer crise. O tema é explosivo e extremamente complexo, envolvendo uma crise de comércio exterior associada a um perigoso componente político que condiciona a aplicação de percentuais destas tarifas ao alinhamento geopolítico dos EUA. Ou seja, países de regimes autoritários que violam direitos humanos, quem não estiver alinhado à nova política do Make America Great Again (MAGA) do Presidente Trump pode sofrer pesadas sanções.
Esta tempestade começou a se formar com uma carta de Trump para o presidente Lula no dia 09 de julho passado, ameaçando impor sobretaxas comerciais ao Brasil e aplicação de sanções da Lei Magnitsky contra autoridades brasileiras, caso não cessassem a perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A princípio, vista com desdém e desacreditada pela maioria dos membros do STF, a ameaça de Trump se confirmou, escalando a crise, com a suspensão de vistos a ministros da Corte e a sanção da Lei Magnitsky a Alexandre de Moraes, que provocou um esgarçamento nas relações amistosas de mais de 200 anos entre o Brasil e os EUA.
A crise escalou com a decisão retaliatória de Moraes em decretar a arbitrária prisão domiciliar do ex-presidente Bolsonaro sob a alegação de descumprimento de medidas cautelares anteriores. O fato desencadeou uma fortíssima reação da direita em manifestações nas ruas por todo o país no domingo (03), pedindo o impeachment de Moraes e a inclusão na pauta do Congresso do projeto de anistia para os condenados no quebra-quebra de 08 de janeiro e do fim do foro privilegiado para parlamentares.
Enquanto o Brasil afunda numa crise gravíssima institucional entre os três poderes da República, na outra ponta, a então ameaça do tarifaço de Trump, explicitada detalhadamente na sua missiva ao governo brasileiro em julho passado, hoje já em vigor, provocará quebradeira de pequenas e médias empresas exportadoras com demissão em massa de trabalhadores, com queda no nosso Produto Interno Bruto. Esta conta tem um endereço certo e vai direto para o colo do presidente Lula, que não conseguiu ou não quis estabelecer um canal de negociação com Trump, preferindo uma estéril denúncia à Organização Mundial do Comércio (OMC), prometendo levar o assunto para a mesa dos países do Brics. Uma estupidez sem tamanho do nosso anão diplomático, que não enxerga a diferença entre soberania e uma negociação bilateral com altivez.