Ferrovia Cabedelo-Cajazeiras: realidade ou firula? – Por Alexandre Costa
Finalmente, uma entidade de peso resolveu acordar e abraçar um dos maiores projetos estruturantes da Paraíba, que pode mudar de vez o perfil socioeconômico do estado como um vetor de desenvolvimento, contribuindo decisivamente para alavancar seu progresso como um todo, combatendo os desníveis econômicos dentro do próprio estado.
Refiro-me à brilhante iniciativa da Federação das Indústrias da Paraíba (FIEP) de solicitar ao ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, durante um evento na sede desta entidade, a implantação de uma linha ferroviária cortando todo o estado, do litoral ao sertão.
Embora seja extremamente pertinente e louvável, a iniciativa da FIEP de reinserir a Paraíba na malha ferroviária nordestina chega atrasada, talvez motivada pela maldição do Governo Juscelino Kubistchek nos anos 1950, que sepultou o modal ferroviário brasileiro ao priorizar com robustos investimentos a indústria automobilística, inaugurando a era do “rodoviarismo” brasileiro. Um avanço brutal deste setor que chegou a deter quase 70% da nossa matriz de transporte, fruto de agressiva e equivocada política de governo.
Ano passado, o Rio Grande do Norte saiu na frente, entrando nesta briga, propondo, por meio de um minucioso estudo elaborado pela Fundação Dom Cabral, reativar o trecho da Ferrovia Mossoró (RN)-Sousa (PB) e a possível inclusão de um novo traçado que contemplaria Cajazeiras até o entroncamento da ferrovia Transnordestina em Missão Velha (CE), onde estará sendo implantado um gigantesco complexo logístico multimodal e uma Estação Aduaneira do Interior do Interior (EADI), o chamado Porto Seco. Investimentos na ordem de mais de R$ 500 milhões que serão realizados pela empresa de logística e aduaneira Value Global Group.
Na verdade, os nossos argutos irmãos potiguares conseguiram antecipadamente enxergar essa nova ferrovia. Ela dará acesso aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE), como um grande ativo competitivo para o escoamento da sua produção de sal, frutas, petróleo e gás para a mais nova e emergente fronteira agrícola do país. As vastas e férteis terras do MATOPIBA(acrônimo que denomina a região formada por territórios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Com isso, o Rio Grande do Norte prova cabalmente que visão estratégica de desenvolvimento e vontade política não é o forte da Paraíba.
Em visita técnica às obras do canal do São Francisco na região de Cajazeiras, na quarta-feira (11), o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, instado pela imprensa local sobre a implantação da ferrovia Cabedelo-Cajazeiras, acenou positivamente elogiando o movimento classificando a proposta da FIEP como legitima.
Foi dada a senha para que A FIEP encampe e lidere um grande movimento que envolva a classe política e a sociedade civil organizada em defesa desta grande obra que já podemos chamar de Ferrovia de Integração Estadual. Nada de improvisação, a exemplo do Rio Grande do Norte, a FIEP necessita contratar um detalhado e minucioso estudo de consultoria especializada que ateste a viabilidade econômica desta ferrovia, mapeando ao longo do seu traçado as potencialidades econômicas de cada região que será beneficiada com o escoamento da sua produção para o Brasil e o mundo.
Defendo sim a criação da ferrovia litoral ao Sertão, mas não partindo de Cabedelo e sim do futuro Porto de Águas Profundas no município de Mataraca, no litoral norte da Paraíba. O atual porto de Cabedelo, de baixo calado, não permite aporte de grandes navios. Nada de construir uma ferrovia de Cabedelo-Suape para suprir as limitações insanáveis do nosso porto. Uma verdadeira meia-sola.
Chegou a hora da Paraíba pensar grande, pensar em obras estratégicas estruturantes integradas e tornar realidade a ferrovia que liga o futuro Porto de Águas Profundas em Mataraca à cidade de Cajazeiras. O resto é firula.