As sete vidas de Lula – Por Linaldo Guedes
Luiz Inácio Lula da Silva é um predestinado. De retirante a presidente da República por três vezes, tem uma trajetória política única no país. Uma mistura de carisma, competência, talento e sorte, que faz com que ele seja o político brasileiro mais popular em toda nossa história. Goste ou não dele, ninguém há de duvidar disso. Nem Getúlio Vargas é páreo para Lula. Vargas ficou muito tempo no poder, mas grande parte em função de uma ditadura. Lula foi eleito três vezes pelo voto popular e caminha para um quarto mandato. Com fôlego de gato, parece ter sete vidas, como elencamos abaixo.
A primeira vida de Lula veio ainda criança, quando migrou de Pernambuco para São Paulo com sua família. Virou metalúrgico e poderia ser mais um anônimo no meio da multidão paulista. Só que Lula tinha uma história diferente para escrever. Virou sindicalista e líder popular até se eleger deputado federal pela primeira vez em 1986, obtendo votação recorde.
A segunda vida viria em 1989, quando saiu candidato a presidente da República pela primeira vez. Era a primeira eleição pós-ditadura com nomes simbólicos na disputa, como Ulisses Guimarães e Leonel Brizola. Mas um até então desconhecido Lula, surpreendendo todos os prognósticos, foi para o segundo turno, perdendo para Fernando Collor de Mello, o caçador de marajás que quase afunda o Brasil. A semente, no entanto, estava lançada.
A terceira vida de Lula veio em 1994 e em 1998, quando perdeu as eleições presidenciais para Fernando Henrique Cardoso. O sociólogo, no entanto, que era amigo de Lula desde os tempos das greves no ABC paulista, pavimentou o caminho para que o petista viesse a ocupar o Palácio do Planalto no futuro.
A quarta vida de Lula veio, enfim, com sua vitória à presidência da República. O ano era 2002 e Lula vence derrotando José Serra no segundo turno. Na presidência, implanta um governo popular, com a criação de programas sociais, do Fome Zero e de diversas universidades, além de reformas estruturais. Na eleição seguinte, em 2006, seria reeleito, derrotando Geraldo Alckimin.
A quinta vida veio após a prisão. Em 2017, Lula foi condenado pelo então juiz Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Foi o primeiro ex-presidente brasileiro a ser condenado criminalmente desde a redemocratização. Lula entregou-se à Polícia Federal em 7 de abril de 2018, passando a cumprir sua pena. Em 2019, foi solto da prisão e teve os direitos políticos restaurados. Enquanto esteve preso, manteve o equilíbrio e a serenidade e uma vigília popular em Curitiba durou todo o tempo da prisão.
A sexta vida de Lula veio com a eleição pela terceira vez para a presidência da República, buscando uma vitória contra o candidato à reeleição Jair Bolsonaro, cujo governo encontrava-se desgastado por medidas negacionistas tomadas durante a pandemia da COVID-19 e políticas econômicas, ambientais e culturais desastrosas. Lula se tornou o primeiro brasileiro a ser eleito três vezes para a presidência da República.
A sétima vida de Lula veio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Com um governo permanentemente chantageado por um Congresso ultradireitista, Lula patinava nas pesquisas eleitorais e tudo indicava que seria o ocaso de sua vida política. Eis que o presidente dos Estados Unidos, a pretexto de forçar uma anistia para Bolsonaro, anuncia taxação de 50% dos produtos brasileiros. O mundo todo, então, sai em defesa de Lula. No Brasil, até alguns políticos de direita se solidarizaram com o presidente. A defesa da soberania nacional mais uma vez ficou nas mãos de Lula, que não teve medo de responder ao presidente norte-americano à altura.
Quantas vidas ainda virão? Não se sabe. Mas uma coisa é certa: derrotar Lula não é para amadores, como Tarcísio Freitas, governador de São Paulo. Nem para negacionistas, como Bolsonaro.