A carta de Trump: comércio, política e ameaças – Por Alexandre Costa

A carta do presidente norte-americano para o governo brasileiro, nesta quarta-feira (9), comunicando a imposição de uma abusiva tarifa de importação de 50% sobre todos e quaisquer produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto, não abalou quem conhece o esdrúxulo estilo Trump de governar.

Em fevereiro passado, escrevi um texto (Efeito Trump), no qual traço um ligeiro perfil de Trump, abordando sobre o seu controverso modelo de tomar decisões que beira a chantagem, o blefe e a bravata.

Num delicado momento em que o Brasil vive uma grave crise de desagregação entre os nossos três poderes, a carta de Trump veio como nitroglicerina pura, que esgarça ainda mais a maior e mais nefasta polarização ideológica brasileira da sua história.      

Nesta carta, o diabo loiro conseguiu se superar ao reunir num único comunicado temas complexos que vão desde aumentos de tarifas de importações a explosivas e sérias acusações ao Supremo Tribunal Federal que envolvem perseguição política e censura praticadas contra empresas de comunicação norte-americanas.  

Quem leu a missiva, percebe claramente pelo estilo da redação que ela não foi redigida nem pelo departamento de Estado nem mesmo pela chefia da diplomacia americana. O ranço e o tom intimidatório denotam nitidamente que foi escrita pelo próprio Trump. Fundamentado em dados equivocados que mostravam que os EUA estavam sendo prejudicados na balança comercial, sapecou uma investigação sobre o Brasil: “O Brasil não tem sido bom para nós. Estou instruindo o representante de comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil”.

A seção 301 é um dispositivo da Lei de Comércio de 1974 que permite ao governo investigar práticas de Estados estrangeiros consideradas predatórias aos Estados Unidos.  

Ao tentar justificar o tarifaço de 50% sobre Brasil, o presidente norte-americano derrapa em falácias ao afirmar que a balança comercial entre os EUA e Brasil é deficitária para o Tio Sam. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) apontam que, em 28 anos de comércio bilateral, os EUA têm saldo superavitário (exporta mais que importa) na ordem de US$ 48,21 bilhões.

Considerando que o Brasil já vinha negociando várias sobretaxas impostas ao Brasil, o inesperado ataque de Trump não teve apenas motivação de ordem comercial, mas sim as recentes posturas que vêm sendo adotadas pelo governo brasileiro, que afrontam os interesses norte-americanos mundo afora, como apoiar e fortalecer seus arqui-inimigos, China, Rússia e Irã dentro do BRICS, e o exacerbado ativismo judicial do STF que censurou, bloqueou e multou plataformas digitais dos EUA e agora marcha célere para condenação do seu colega pessoal, o ex-presidente Jair Bolsonaro. É evidente que essa estratégica tarifa cavalar de 50% é um blefe insustentável e, a exemplo de outros países, vai com certeza ser renegociada em termos aceitáveis para ambos os lados. O nó górdio da questão agora reside nos desdobramentos destas ameaças e acusações ao governo e ao judiciário brasileiro que, segundo Trump, promovem uma verdadeira caça às bruxas com perseguição a adversários políticos. É o Trump sendo Trump!

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