As meias-verdades na derrubada da MP dos impostos – Por Alexandre Costa
O tique-taque da bomba fiscal prestes a explodir no colo do governo aumentou o ritmo com o enterro da MP 1.303/25 pela Câmara Federal nesta quarta-feira (8). A chamada MP dos impostos, que previa aumento em várias alíquotas em setores escolhidos a dedo, representava para a União um desesperado reforço de caixa para o ministro Haddad de R$17 bilhões para compensar a derrubada do aumento do decreto do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) no Congresso.
Com a aprovação de um simples requerimento para retirada de pauta desta MP no último dia de sua vigência, por 251 votos a favor e 193 contra, a Câmara sepultou uma sórdida tentativa governamental de pilhar mais uma vez o já exaurido contribuinte brasileiro. Na verdade, a MP dos impostos é mais uma ardilosa e marota estratégia do governo de meter a mão no bolso do cidadão para sanar uma deficiência que é totalmente sua, fruto da incapacidade e incompetência de equilibrar as contas públicas.
Concebida como uma espécie de plano B, depois da derrota acachapante na Câmara e no Senado do decreto do governo que previa aumento do IOF, em junho passado, essa MP dos impostos sequer deveria existir, considerando que este decreto do IOF foi reestabelecido em parte pelo Supremo Tribunal Federal (STF), fato omitido pela mídia governamental, substituído por várias meias verdades expostas massivamente.
No rescaldo dos desdobramentos desta amarga derrota, membros da base aliada do governo atribuíram a causa do revés ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que articulou e liderou na Câmara um movimento juntamente com os presidentes do PP, Ciro Nogueira, e Antônio Rueda, do União Brasil.
A derrubada da MP dos impostos não só escancarou a falta de liderança e a fragilidade da base do governo no Congresso, como dá margem para um revanchismo calcado na volta de virulentas narrativas divisionistas como opinião Pública X Congresso, nós contra eles, pobres contra ricos, estopins da desagregação social.
Na verdade, era a senha que a esquerda precisava para deflagrar o início da campanha presidencial de 2026, no momento em que a direita tem o seu maior líder fora da disputa, totalmente fragmentada, claudicante e agora sem discurso. Lula, pela sua história política construída na base do sindicalismo brasileiro, tem no seu DNA o perfil de grandes lutas, combatendo o contraditório. É no confronto direto com o contraditório e na disseminação de narrativas que ele se agiganta. Ou seja, Lula precisa urgentemente de uma figura que encarne o contraditório; se a direita ainda não escolheu o seu candidato, Lula escolheu! Trata-se de Tarcísio de Freitas.
Exemplo claro disso é o caso do tarifaço de Trump. Em declínio nas pesquisas de aprovação de sua popularidade, Lula conseguiu reverter estes índices e já figura com perspectivas de ascendência, tudo calcado numa narrativa nacionalista contra Trump, exultando a soberania do Brasil.
Ocorre que esta narrativa de soberania nacional tem prazo de validade e Lula precisa alimentar o seu contraditório para se manter “vivo” nas pesquisas, algo que ele não conseguiu como presidente por falta de entregas de um governo que ainda não disse para que veio.