O estado paralelo mostra a cara – Por Alexandre Costa
As cenas horripilantes de cadáveres enfileirados numa praça pública da Penha, produto da maior e mais letal operação policial contra uma facção criminosa no Rio de Janeiro, escancararam o caos da segurança pública no Brasil.
Agindo unilateralmente, o governo do Rio de Janeiro comandou uma megaoperação, planejada e investigada ao longo de mais de um ano contra o Comando Vermelho, mobilizando todo o aparato de segurança do estado, que envolveu 2500 policiais, viaturas e blindados, resultando em um banho de sangue que causou a morte de mais de 120 criminosos e 4 policiais.
O ato desesperado do governador Claudio Castro reflete uma decisão extrema de quem está no limite, impotente, prestes a sucumbir de vez à força de um estado paralelo cada vez mais sem limites que subjuga o estado e as instituições e humilha a sociedade.
O crime organizado no Brasil avançou e se reinventou, afrontando as nossas autoridades e instituições que cuidam da segurança pública. Essa reinvenção não está apenas em transpor fronteiras, tornando-se organizações criminosas transnacionais ou mesmo infiltrando-se na política, em instituições do Estado e em atividades da economia formal.
Agora, a nova dinâmica do crime organizado consiste em criar e expandir territórios de atuação, verdadeiros feudos que são delimitados por barricadas. Na próxima vez que você se deparar numa comunidade, favela ou vila com uma barricada, não pense que ela está ali para impedir a entrada do “caveirão”. Prepare-se para adentrar numa área restrita, onde ninguém entra ou sai sem autorização, nem mesmo a polícia, instituições ou agentes de Estado.
Um território sem lei sob o total domínio de uma determinada facção criminosa que ali sobrevive da extorsão a comerciantes, cobrando “pedágio”, e do controle total da venda de gás, cigarros, bebidas por preços abusivos e até mesmo do sinal de internet, a conhecida CV NET. Este é o “novo, ágil e competitivo modelo de negócio” do crime organizado.
No Rio de Janeiro, segundo um estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF), são mais de 4 milhões de cariocas e fluminenses que vivem atrás de 5 mil barricadas que delimitam estes territórios, números que configuram claramente a consolidação do estado paralelo no Brasil. É o estado dentro do Estado.
Foi ao explorar este novo “nicho de mercado” para expandir e dominar territórios que o Comando Vermelho e milicianos conseguiram controlar mais de mil comunidades no Rio de Janeiro. No Ceará, esta mesma facção promove o maior êxodo urbano nas periferias de Fortaleza, expulsando de suas casas milhares de famílias, provocando hoje a maior crise humanitária do Ceará.
O caso específico da fatídica operação nos Complexos do Morro do Alemão e da Penha entra para a história, escancarando para o mundo o alto risco de governabilidade a que o país está exposto por ter perdido a guerra da segurança pública para facções criminosas.
É mais do que óbvio que este tipo de operações, além de vitimar policiais e inocentes, são ineficazes e não resolvem o problema. As causas estão na leniência das nossas leis e nas divergências entre a União e o Congresso por não convergirem para uma legislação que defina, proteja, apoie e puna, distinguindo claramente quem é verdadeiramente cidadão, policial e bandido.
Quanta hipocrisia em se falar de resolver a questão da segurança pública no Brasil com a aprovação da PEC da Segurança e da Lei Antifacção e por aí vai, quando ainda não conseguimos sequer bloquear o sinal de aparelhos celulares dentro dos presídios. É um estado paralelo organizado que se opõe a um Estado esculhambado, revelando sua verdadeira cara.
(Imagem: Agência Brasil)
