O psicólogo e a ponte – Por Alexandre Costa

O demorado e doloroso resgate das vítimas e desaparecidos no trágico desabamento da ponte Juscelino Kubistchek sobre o Rio Tocantins, na divisa dos municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), atestou a falência total do estado brasileiro em manter funcionado as suas rodovias, por simples falta de manutenção e conservação de estruturas de engenharia rodoviária espalhadas por todo país.

‘A ponte estava condenada e ninguém fez nada, foi irresponsabilidade”. Assim reagiu o diretor da Associação Brasileira de Pontes e Estruturas, o engenheiro civil e professor da UFRJ Carlos Henrique Siqueira, um dos maiores especialistas neste setor e que ficou conhecido como o “pai da Ponte Rio-Niterói”.

O engenheiro Siqueira foi assertivo na sua avaliação. Em janeiro de 2020, o DNIT apresentou um detalhado relatório que a ponte apresentava cabos de aço de sustentação expostos e enferrujados e com várias rachaduras no vão central, falhas que comprometiam toda a sua estrutura. Nada foi feito. Em maio de 2024, este mesmo órgão anuncia que a licitação, na ordem de R$ 17.000,00 para fazer estes reparos na ponte, foi declarada fracassada por falta de habilitação das empresas no certame.

Óbvio que esta inoperância e descaso com o cidadão é marca registrada da grande maioria das empresas públicas brasileiras. Bem que se tentou resolver isso. Criado em 2001, na forma de uma autarquia, o DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes veio com uma proposta inovadora para substituir o já caduco DNER – Departamento Nacional de Estradas e Rodagens e com a missão desafiadora de reestruturar o sistema de transportes rodoviário, ferroviário e aquaviário do país.

Até aqui, nada de novo na inoperância e uso político das empresas públicas do Brasil, mas a tragédia, mais do que anunciada, serviu para desnudar as entranhas do modus operandi do DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte, uma autarquia federal incumbida de implementar e gerir a política de infraestrutura de transportes terrestre, aquaviários e ferroviário.

O que chamou a atenção foi uma recente nomeação de um psicólogo de militância política para a Superintendência Estadual do DNIT no Maranhão, em substituição a um engenheiro de carreira. Nada contra os psicólogos, mas indicar um profissional inepto, sem qualquer vínculo com nenhuma área específica da engenharia, para uma superintendência estadual desta autarquia, representa a degradação do serviço público brasileiro e um desrespeito e descaso com vidas humanas e que afronta a memória dos 12 mortos e 5 desaparecidos na tragédia, que agora passa fazer partes das estatísticas, logo esquecidas, causadas por simples falta de manutenção em obras e estruturas de engenharia espalhadas por todo país. Novas tragédias virão.

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