O IBGE sob suspeita? – Por Alexandre Costa
Envolto há meses numa das suas maiores crises desde a sua criação, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vivencia uma rebelião de diretores, funcionários e do sindicato que representa a categoria (ASSIBGE), resultando em renúncias no corpo diretivo da instituição. Considerado como um farol para as políticas públicas do país, o IBGE é uma instituição de excelência e alta credibilidade na produção de informações que originam os vários censos, estatísticas do mercado de trabalho, índices inflacionários, dados fundamentais para concepção do plano estratégico de desenvolvimento brasileiro.
O início do imbróglio foi o questionamento e a suspeita levantada por estes diretores pela esdrúxula iniciativa do seu atual presidente, o economista Márcio Pochmann, em criar a Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+), sem passar pelas tradicionais discussões internas do órgão.
No fundo, o objetivo final desta Fundação seria captar recursos deste setor para custear suas atividades. Uma prática totalmente condenada pela Comissão Estatística das Nações Unidas (CSNU), órgão responsável pela orientação, coleta e divulgação de dados e estatísticas em nível mundial. De acordo com o CSNU, a regra nesta atividade, por questão de credibilidade e isenção, é não ter dinheiro da iniciativa privada, tem que ser dinheiro público.
O IBGE+, logo apelidado de IBGE paralelo, segundo os servidores rebelados da instituição, “trata-se de uma entidade de apoio de direito privado, implementada sem qualquer diálogo com os trabalhadores, formalizada em sigilo por 11 meses e anunciada dois meses após sua oficialização em cartório, uma Fundação que gera dúvidas quanto a sua real finalidade e ao impacto que terá sobre a independência técnica e administrativa do instituto”.
A crise recrudesceu logo no início de janeiro deste ano, quando os diretores da área de pesquisa pediram exoneração, descontentes com a gestão Pochmann.
Indicação direta e pessoal do presidente Lula da Silva, Márcio Pochmann é uma figura de um aguçado perfil politico-ideológico, que foi gerada dentro das entranhas do Partido dos Trabalhadores, acumulando ao longo da sua carreira a marca de um desagregador nato e gestor autoritário e midiático afeito a conflitos. Este foi o rastro que ele deixou quando assumiu a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), onde foi acusado de omitir dados desaforáveis ao governo petista a quem servia na época e agora volta a atacar com carga máxima no IBGE.
A gota d’água veio numa grande manifestação realizada em frente à sede do IBGE no Rio de Janeiro na manhã da quarta-feira, 19, onde os funcionários da Instituição gritavam “fora Pochmann”, “abaixo o IBGE paralelo”. A pressão funcionou. O Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), ao qual o IBGE é subordinado, agiu rápido, suspendendo temporariamente naquela mesma manhã o famigerado IBGE paralelo.
Estaria o IBGE correndo o mesmo risco que aconteceu na Argentina quando o governo Kitchiner foi flagrado manipulando dados estatísticos para beneficiar sua gestão? Isso somente se saberá depois de uma profunda investigação que, com toda certeza, não acontecerá em governos petistas.
Essa é uma prova cabal de que o IBGE precisa se tornar urgentemente um órgão de estado e não de governo para evitar gestões temerárias de cunho politico-ideológico que desestabiliza a instituição, gerando uma crise de credibilidade com danos irreversíveis.